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sexta-feira, 11 de março de 2011

Violência contra a Mulher: Igrejas devem romper o silêncio - por ALC‏

Violência contra a Mulher: Igrejas devem romper o silêncio

por ALC

Tradicionalmente, setores conservadores e fundamentalistas foram cúmplices e, bem por isso, igrejas deveriam romper o silêncio e defender mulheres de toda e qualquer situação de violência, disse a economista e ex-secretária do Instituto de Desenvolvimento da Mulher (Isdemu), Julia Evelyn Martínez para uma platéia de religiosos anglicanos.
A reportagem é de Susana Barrera e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 08-03-2011.
A violência contra a mulher é uma das preocupações das autoridades salvadorenhas. No ano passado, a polícia recebeu quatro mil denúncias de agressões sexuais perpetradas contra mulheres, de modo especial em meninas e adolescentes. Do total das denúncias, apenas 204 agressores foram condenados. Quanto aos demais casos, não foram juntadas provas, a justiça simplesmente não se importou, gerando impunidade, lamentou Julia.
Professora da Universidade da Companhia de Jesus, Julia exortou as pastorais a romperem o silêncio, inclusive denunciando fiéis que cometerem esse tipo de delito. Relatório do Isdemu do ano passado observa que agressores de mulheres são pessoas conhecidas, entre elas pastores e sacerdotes.
Julia foi secretária do Isdemu por um ano e meio, quando foi destituída “por perda de confiança”. Ela defendeu lei de despenalização do aborto.

poesia Esperança‏

Em seus olhos de menina
Uma pequena poesia
De um sonho não distante
Dos que sabem sonhar

Seus pés tocam o chão
Do saber inusitado
A poesia pertence ao seu corpo
Que luta encorajado/a

Uma bandeira sedenta de esperança
Que anuncia o “novo tempo”
Que será nosso coletivamente
Como em uma linda ciranda

Sinto o cheiro das flores dos jardins
Já sem cercas que oprimem
Sinto o viver que pulsa em seu sorriso
Gritando “Liberdade”

Deixe a vida seguir
Sabendo que a historia é um profeta
Que a arte é um mistério
Que a luta é nossa dádiva

Bandeira nas costas...
Amor no peito...
Esperança nos pés...
e comunhão nos sonhos...

Rodrigo szymanski
08/03/2011

Rodrigo szymanski

PJ - Diocese de Criciuma- SC

Twitter:
http://twitter.com/rodrigoszy

Blog:
http://rodrigopjoteiro.blogspot.com/

colaboração:
http://registroalternativo.blogspot.com/ e http://pjcriciuma.com/

Dia Internacional da Mulher‏

AVISO A LUA QUE MENSTRUA
De Elisa Lucinda
 
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
  julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!
 HOJE PODEMOS OBSERVAR QUE SÃO MUITAS AS CONQUISTAS FEMININAS, MAS ESTAS, AINDA NÃO SÃO SUFICIENTES PARA A GARANTIA DA PLENA LIBERDADE ÁS MULHERES.
QUE O DIA DE HOJE SIRVA SEMPRE COMO INSPIRAÇÃO PARA CONTINUARMOS A LUTA DE TANTAS GUERREIRAS QUE NOS ANTECEDERAM, E NOS DOAR PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MAIS JUSTO!--
 
Elis Souza dos Santos
Msn:
lilaaxe@hotmail.com
75 9125 0510
75 8804 0541

Mulheres‏

 


Rodrigo szymanski
 
PJ - Diocese de Criciuma- SC
 
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colaboração:
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Mulheres

Gostaria de escrever mil livros em teu nome
Pois como seria o mundo sem você?
Ate Deus escolheu uma para dar a luz a seu filho
Mulheres que jamais desistem
Mulheres guerreiras, sonhadoras, maternas
Mulheres que ate pouco, nada de direitos possuíam
Mulheres que ate hoje ainda são consideradas objetos
Mulheres que dão a luz e são a luz
Mulheres representação divina do amor
Mulheres que amam,
Mulheres, que são
Que eram
Que serão...
Mulheres ..
Presidentas, mães, esposas, empresarias, professoras, catadoras, namoradas, amigas, educadoras, santas
Mulheres ... nossa grande alegria...
Mulheres, nada mais que isso, mulheres...

Obrigado por gerar a vida e manter os sonhos e esperança...


Rodrigo szymanski
08/03/2011

Mulher não é uma coisa só...

 

Mulher não é uma coisa só...

Mulher não é uma coisa só, mulher é um monte de coisa
Tem mulher que é rica, tem mulher que não tem um tostão no bolso
Tem mulher que acorda antes do sol nascer, tem mulher que odeia acordar cedo
Tem mulher que leva a vida inteira com o mesmo amor, tem mulher de mil amores
Tem mulher que gosta de trabalhar, tem mulher que é preguiçosa
Tem mulher que libera geral, tem mulher que gruda
Tem mulher que tem TPM, tem mulher que nem sabe o dia em que a menstruação vai chegar
Tem mulher que pega todos, tem mulher que é de um homem só
Tem mulher que cozinha como ninguém, tem mulher que é de mal com o fogão
Tem mulher que é líder, tem mulher que gosta de ser liderada
Tem que mulher que é meiga, tem mulher que é braba
Tem mulher que morre de ciúmes, tem mulher que não liga pra nada
Tem mulher de muitas amigas, tem mulher de raras amizades
Tem mulher que gosta de mulher, tem mulher que gosta de homem
Tem mulher que gosta de homem e de mulher
Tem mulher que é religiosa, tem mulher que nem passa perto de templos, igrejas e terreiros
Tem mulher que é artista, tem mulher que nem sabe pegar num pincel
Tem mulher que nasceu para o palco, tem mulher que gosta de ficar atrás das cortinas
Tem mulher que faz sexo porque gosta, tem mulher que nunca chegou ao orgasmo
Tem mulher que gosta de barulho, tem mulher que paga por um pouquinho de silêncio
Tem mulher que é da noite, tem mulher que é do dia
Tem mulher que é política, tem mulher que não participa de nada
Tem mulher que gosta de olhar a vida alheia, tem mulher que odeia fofoca
Tem mulher que fala pelos cotovelos, tem mulher que gosta mais de escutar
Tem mulher que é conectada, tem mulher que não sabe pegar num celular
Tem mulher que é casada, tem mulher que ama a sua solteirice
Tem mulher que é mãe, tem mulher que não quer ter filho
Tem mulher que passa a vida em casa, tem mulher que é apaixonada pela rua
Tem mulher que ama livros, tem mulher que não gosta de estudar
Tem mulher que ama dançar, tem mulher que dança quando não tem jeito
Tem mulher que gosta de carinho, tem mulher que não se pode triscar
Tem mulher que é de atitude, tem mulher que vive esperando o momento certo
Tem mulher que disfarça, tem mulher que é muito sincera
Tem mulher que se esconde, tem mulher que ama se mostrar
Tem mulher que se arruma toda, tem mulher que malmente toma um banho
Mulher é um monte de coisa... Mulher é de muitas formas: magra, gorda, alta, baixa, negra, branca, indígena, com deficiência, sem deficiência, criança, jovem, adulta, idosa... Cada uma com o seu jeito, com o seu gosto, com a sua trajetória, com o seu projeto, com o seu encanto, com a sua forma, com as suas belezas, com as suas limitações, com a sua marca, com a sua verdade, com a sua fé... O importante mesmo é contemplar a complexidade e a diversidade desse ser divinal, majestoso, gracioso, com tantos nomes e um nome só: MULHER.


--
"Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da Terra". (Provérbio Africano)

Hildete Emanuele Nogueira de Souza - TICA
(71) 33819795 (71) 88563012 (71) 92643678
MSN -
tiquinhapj@hotmail.com
Twitter - tiquinhadapj

terça-feira, 8 de março de 2011

O mês da mulher

 O mês da mulher

Há 152 anos, em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque fizeram uma grande greve em que ocuparam as instalações para reivindicar melhores condições de trabalho. Exigiam a redução da jornada para dez horas (eram 16 horas de trabalho diário), a equiparação de salários com os homens (já que recebiam até um terço do salário de um homem pelo mesmo tipo de função) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

A greve foi violentamente reprimida. Trancaram as mulheres dentro da fábrica, atearam fogo em suas dependências e o trágico saldo foi a morte de 130 tecelãs carbonizadas. Décadas passaram e, em 1910, a data daquele ato bárbaro passou a ser considerada o "Dia Internacional da Mulher" em homenagem às mártires.
O dia 8 de março cai bem no meio do signo de Peixes, que é feminino por natureza e está relacionado à fraternidade universal e aos sacrifícios que são feitos em prol de uma causa altruísta. O motivo da criação da data não foi apenas o de comemorar, mas antes realizar encontros, debates e conferências para discutir o papel da mulher na sociedade, num esforço para terminar com preconceito e a desvalorização. Todos sabemos que, apesar das conquistas, ainda falta muito para isto ser alcançado. Em algumas regiões do mundo, a situação é de verdadeira penúria. É possível que, este ano, as manifestações sejam mais veementes.
“É necessário que a mulher não caia nas armadilhas da indústria e do consumo e promova mais uma revolução: uma alternativa real que aponte para uma nova forma de viver”
Para avaliarmos a condição das mulheres nos dias de hoje, podemos utilizar os trânsitos dos planetas lentos (vinculados ao desenrolar da História) e obter um quadro esclarecedor.

Na década de 50, com Urano (novidades tecnológicas e mudanças de comportamento) em Câncer (família, maternidade), surge a pílula anticoncepcional. Estava acontecendo, naquele momento, uma verdadeira revolução na vida dos casais e, em especial, da mulher. A possibilidade de fazer sexo sem o risco da gravidez permitia uma autonomia em relação ao prazer feminino nunca antes imaginada.

Posteriormente, na década de 60, com Urano e Plutão (transformações radicais no inconsciente coletivo) em Virgem (regras de convivência), e Netuno (espiritualidade e entrega) em Escorpião (rompimento com o que está estagnado), ocorre uma outra revolução, agora nos costumes, com as mulheres começando a quebrar o tabu da virgindade e tendo uma nova postura em relação ao casamento. Agora, com Urano em Peixes (dissolução), percebemos que a tradicional família patriarcal vem sendo cada vez mais desconstruída, com todos os prós e contras que isto acarreta. Tanto homens como mulheres estão se adaptando a este novo contexto relativamente recente. Aqui está um dos principais desafios para a mulher de hoje.

Outro trânsito importante foi a passagem de Urano e Plutão pelo signo de Libra (relacionamentos pessoais), nos anos 70. A partir desta época, as separações e os divórcios passaram a se tornar cada vez mais comuns, colaborando para acelerar o processo de mudanças que caracterizou a 2ª metade do Século XX. Com Urano e Netuno em Sagitário (liberdade) e Capricórnio (carreira), nas décadas de 70, 80 e 90, as mulheres acirraram a competição com os homens no mercado de trabalho, passaram a viver os seus relacionamentos com independência maior, mas também cada vez mais conscientes dos preços a serem pagos por esta emancipação: menos tempo em casa para cuidar dos filhos, rotina mais estressante, etc.

No momento presente, com Urano em Peixes, Netuno em Aquário (imersão no mundo tecnológico) e Plutão em Capricórnio (decadência dos impérios), percebemos que o horizonte sonhado pelos idealistas dos anos 60 ainda está bem longe de se realizar: as assimetrias sociais são enormes, a violência cresceu assustadoramente, há muitas disputas e guerras entre os povos, intolerância religiosa e, mais recentemente, o drama envolvendo o ecossistema do planeta e a crise financeira de proporções avassaladoras. É neste ambiente que as mulheres têm o seu mais novo desafio, num sistema comprovadamente inviável e com os próprios homens, maiores detentores do poder, sem saber exatamente o que fazer e como agir.

Mais do que nunca, a participação das mulheres será decisiva para que a humanidade consiga superar os enormes problemas que vêm surgindo. Numa sociedade dominada pela polaridade yang (masculina), é vital que natureza feminina possa permear cada vez mais o mundo cotidiano e a orientação dos povos. Caso contrário, a usura e a falta de respeito pela dimensão sagrada do universo em que vivemos poderá, realmente, nos destruir.

É necessário que a mulher não caia nas armadilhas da indústria e do consumo e promova mais uma revolução: uma alternativa real que aponte para novos hábitos e para uma nova forma de viver, com mais harmonia e solidariedade, em maior integração com a natureza e com o cosmos. Está lançado o desafio!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Protesto das mulheres na Aracruz completa 5 anos‏

Protesto das mulheres na Aracruz completa 5 anos

4 de março de 2011
http://www.mst.org.br/sites/default/files/2006%20Jornada%20de%20Mar%C3%A7o%20A%C3%A7ao%20Aracruz%20%201.jpg?1299250120

Por Bianca Costa
Na madrugada do dia 8 de março de 2006, 1.800 mulheres da Via Campesina realizaram uma das maiores ações contra o monocultivo de eucalipto no Rio Grande do Sul.
Organizadas, as mulheres ocuparam o viveiro hortoflorestal da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, município que fica a cerca de duas horas de Porto Alegre. Na ação, elas destruíram estufas e bandejas de mudas de eucalipto.
A repercussão do protesto ampliou o debate sobre a monocultura de eucalipto e chamou a atenção da sociedade sobre os malefícios sociais, ambientais e econômicos desse tipo de cultura.
Por que a celulose da Aracruz
http://www.mst.org.br/sites/default/files/images/2006%20Jornada%20de%20Mar%C3%A7o%20A%C3%A7ao%20Aracruz%20%20MDIM@EduardoSeidl%20%287%29.jpgEm 2006, ocorria em Porto Alegre o encontro internacional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), para discutir a Reforma Agrária e o desenvolvimento rural.
As mulheres decidiram que era o momento de tornar visível para os países que participavam da conferência as consequências do plantio em grande escala de eucalipto. “As mulheres decidiram tornar público o que estava acontecendo com a terra, com os camponeses e com a saúde para o conjunto da sociedade. Decidiram que a Aracruz simbolizava essa denúncia e por isso a ocuparam e destruíram as sementes e as mudas dos viveiros como uma forma de chamar a atenção da sociedade para o que representa esse modelo de cultivo”, afirma Ivanete Tonin, do militante do MST.
O eucalipto precisa de muita água para o seu desenvolvimento. Originário de regiões úmidas da Austrália, a planta precisa em média de 30 litros de água por dia ao longo de suas fases de crescimento.
No Brasil, embora tenha muitos rios, não existem vastas regiões úmidas, portanto, o plantio em larga escala de eucalipto pode provocar desequilíbrios nas águas existentes na região de plantio. Como consequência disso, vai faltar água para plantas, consumo humano e animal.
Como suas raízes são muito profundas, o eucalipto seca várzeas, poços artesianos e vertentes, trazendo o ressecamento da terra de superfície na região e altera o regime de chuvas. A falta de umidade torna mais difícil a entrada de frentes frias e ocorrem mais estiagens, como as registradas na região sul do Rio Grande do Sul, onde se planta muito eucalipto.
Na época, a Aracruz Celulose era uma das maiores produtoras de pasta de celulose do mundo. Em 2006, no Rio Grande do Sul, a multinacional possuía 300 mil hectares de terra para plantar eucalipto, planta da qual se extrai a celulose. A intenção da empresa na época era chegar em 2015 com 1 milhão de hectares de terra plantadas no estado. Mais de 95% da celulose é para exportação.
O produto serve para a produção de papel higiênico, papel toalha, lenço, papel absorvente e demais produtos descartáveis, de acordo com o Com informações do informativo “O latifúndio dos eucaliptos: Informações básicas sobre as monoculturas de árvores e as indústrias de papel”, da Via Campesina do Rio Grande do Sul.
Essa situação, simbolizada pela Aracruz, fez com que as mulheres decidissem pelo ato. “Essa ação visava denunciar o conjunto desse padrão de produção que transforma os países pobres apenas em colônia. Nós ficamos apenas com o prejuízo”, relata Ivanete.
O ato durante a semana do encontro da FAO teve a intenção de alertar para as ações do governo federal. “O governo veio à Porto Alegre fazer propaganda de que o Brasil estava acabando com a fome. Mas na verdade, esse governo representa os interesses do capital no campo. É um governo que não faz Reforma Agrária e defende o agronegócio”, afirma Ana Hanauer, da direção estadual do MST. 
Protagonismo na luta de classe
Além de denunciar o êxodo rural provocado pela expansão das áreas de plantio da monocultura do eucalipto, a expulsão de pequenos agricultores de áreas próximas em função da escassez de água e também as péssimas condições dos trabalhadores que são contratados sem direitos trabalhistas pelas empresas do setor, a ação teve forte repercussão dentro dos movimentos sociais, da esquerda em geral e na sociedade.
“O 8 de março de 2006 representou a afirmação e a construção de um feminismo proletário contra o capital. Porque até o momento, o feminismo era muito vinculado à classe média, às demandas que são importantes para as mulheres, mas até então não tínhamos uma ação mais concreta de enfrentamento com o capital,” explica Claudia Teixeira, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD).
A ação na Aracruz deu maior visibilidade às lutas das mulheres da Via Campesina. Até então, era realizadas ações na linha de afirmar a presença das mulheres nos diferentes setores na perspectiva dos direitos.
Em 2006, as mulheres se tornam protagonistas do ponto de vista da luta contra o capital. “Chegamos no momento de dizer que neste modelo de sociedade, nem homens nem mulheres tem vida. Também teve uma repercussão grande nos movimentos, pois as mulheres assumiram todas as instâncias da preparação do ato. Isso representou um empoderamento interno muito importante”, avalia Sarai Brixner, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
A manifestação também representou a primeira ação mais forte de mulheres do MPA. “Significou, então, um marco histórico para nós enquanto movimento social de luta das mulheres. Além disso, a ação revelou toda uma discussão sobre monocultura, transgenia e contaminação do meio ambiente com a produção de pasta de celulose,” afirma Rosieli Lüdtke, do MPA. 
Na Via Campesina, as mulheres entravam em um período de ascensão, no qual participavam mais intensamente dos debates e das questões de gênero. “Essa ação nos projetou enquanto referência política de luta de classe. Nós temos que responder a altura e isso ultrapassa as pautas dos movimentos”, explica Ana Hanauer, do MST.
A ação representou uma reafirmação de uma luta maior contra o capita e revelou, conforme Ivanete Tonin, a ideia de que não há libertação das mulheres sem a destruição do capital. “A libertação das mulheres não se dá somente dentro de casa, ou nas relações, mas sim na construção de um outro modelo de sociedade. A opressão das mulheres também está fundada na sociedade capitalista,” afirma Ivanete.
O protagonismo das mulheres na ação também é destacado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). De acordo com Patrícia Prezotto, as mulheres começam a pautar a luta de classe. “Foi um momento histórico para as mulheres. Elas começam a não aceitar o que o capital impõe. Essa ação na Aracruz demonstra que as mulheres têm condições de fazer a luta contra o capital,” salienta Patrícia. 
A identificação do capital como o grande inimigo da classe trabalhadora também foi um dos acúmulos da luta. “2006 traz para nós a discussão da celulose e da monocultura, pois até então a sociedade não percebia o mal que representa para a humanidade esse tipo de cultura,” relembra Izanete Maria Colla, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).
Além disso, a construção da luta na Aracruz representou uma unidade mais forte entre as mulheres. “As mulheres se identificaram, pois a ação bateu forte na questão do monocultivo, na questão ambiental e na questão do capital. Isso fortaleceu muito os movimentos que participaram da luta”, diz Elci da Paz, do MMC.
Outro aspecto é que a luta do 8 de março de 2006 questionou a opção de parte da esquerda de apostar no processo eleitoral para fazer mudanças estruturais na sociedade em favor dos trabalhadores. “Aquela ação mostrou que as mulheres pobres que se movimentavam ali não se sentiam incluídas neste poder, na medida em que denunciavam que o governo Lula liberou os transgênicos e flexibilizou as leis ambientais. Então é uma ação que também chocou por questionar essa via de fazer a luta”, explica Ivanete.
Reação da sociedade
As mulheres avaliam que em um primeiro momento, a reação imediata da população foi de criticar e condenar a ação, principalmente pela influência da mídia buguesa, mas depois que o assunto começou a ser debatido, muitas pessoas passaram a ver a ocupação da Aracruz com outros olhos e a apoiar a luta contra a monocultura do eucalipto.
“Uma parcela importante da sociedade entendeu que as mulheres destruíram aquilo que viria a destruir a terra, secar os rios e causas uma série de problemas, inclusive para a saúde”, avalia Neiva Vivian, do MST.
Entretanto, devido à abordagem da mídia que tratou a ação como um crime e defendeu a empresa, ignorando os impactos da monocultura para a população e o meio ambiente, alguns setores da sociedade ainda não compreenderam a importância da destruição do viveiro da Aracruz. “Nós não somos contra a tecnologia, nós somos contra uma tecnologia quando está apenas em função do lucro,” relata Ivanete.
A ação na Aracruz está no contexto da condição de barbárie que as mulheres vivem na sociedade capitalista patriarcal. “Nós mulheres não temos nada a perder. E esse gesto de radicalidade é compreensível a partir do momento em que as mulheres dizem que só o socialismo que resolve o problema das mulheres. Não é possível remediar em nenhum aspecto. Não tem reforma, não tem ação governamental que amenize a condição de opressão da mulher na sociedade em que a gente vive”, sintetiza Ana.

Por uma sociedade sem violência: pelo respeito aos direitos das mulheres‏

Por uma sociedade sem violência: pelo respeito aos direitos das mulheres

por ABONG
Apesar das inúmeras conquistas dos movimentos feministas nas últimas décadas, a igualdade efetiva entre homens e mulheres no Brasil continua sendo uma realidade distante. Persistem graves problemas, como a reduzida representação política, os salários desiguais, a responsabilidade quase exclusiva em relação ao trabalho doméstico e ao cuidado de filhas e filhos, a mercantilização do corpo feminino, e um dos mais graves e preocupantes, a violência de gênero. Esse tipo de violência se manifesta de diversas maneiras – como a violência doméstica, o assédio sexual, o estupro, o tráfico de mulheres, a criminalização do aborto – e atinge mulheres de todas as classes sociais, raças e idades.  
 Nesse contexto, a violência doméstica contra as mulheres apresenta índices alarmantes e constitui uma das maiores preocupações das brasileiras. Cinco mulheres são espancadas a cada 2 minutos no Brasil, de acordo com o estudo "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado", da Fundação Perseu Abramo e do SESC, divulgado em fevereiro deste ano. Aproximadamente uma em cada cinco mulheres considera já ter sofrido algum tipo de violência de parte de um homem. E, segundo o Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari, a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil. Os principais responsáveis por esses crimes são parceiros, ex-parceiros ou homens que foram rejeitados por essas mulheres. A violência machista tem consequências perversas para a saúde física e mental dessas mulheres, resulta em sentimento de culpa, isolamento, baixa auto-estima, dificuldade de participar da vida pública, entre outros desdobramentos.   
 Por isso, neste 8 de março, a ABONG reafirma a necessidade de se tomar medidas urgentes para combater esse problema, entre elas a efetiva implementação da Lei Maria da Penha (11.340/06), que prevê a criação de mecanismos com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo ações para a prevenção, assistência e proteção às mulheres em situação de violência e medidas de punição dos agressores. Neste mês, diversas associadas da ABONG realizarão atividades e mobilizações contra a violência machista, entre outros problemas enfrentados pela população feminina, e defendendo a Lei Maria da Penha
 Elaborada a partir de uma proposta apresentada por um conjunto de entidades dos movimentos feministas, a Lei Maria da Penha, sancionada pelo presidente Lula em 2006, é considerada uma conquista histórica na afirmação dos direitos humanos das mulheres. A legislação engloba, além da violência física, a psicológica, sexual, patrimonial e moral, e apresenta diretrizes de políticas e ações integradas do poder público para diversas áreas.
 A nova legislação trouxe inegáveis avanços, que vêm beneficiando milhares de pessoas.  Um dos pontos de destaque são os instrumentos criados para combater a impunidade, que antes atingia 90% dos casos que chegavam à Justiça brasileira, e para demonstrar que essa violência não pode ser tolerada na nossa sociedade. Com a nova legislação, foi proibida a aplicação de penas de cesta básica ou multa a esses casos, que deixaram de poder ser caracterizados como crimes de menor potencial ofensivo. Estão sendo criados nos estados Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, e está em curso a descentralização e interiorização das delegacias e centros de referências de mulheres, entre outras mudanças.

A Lei Maria da Penha, no entanto, provocou fortes reações de setores conservadores que tentam invalidá-la de diferentes formas, inclusive com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). O Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), uma das associadas da ABONG, atualmente acompanha 23 projetos de lei para modificá-la que tramitam no Congresso Nacional, alguns deles propondo retrocessos. Há também uma enorme resistência na aplicação da lei, por conta do machismo arraigado nas instituições públicas brasileiras.
  A Central de Atendimento à Mulher (180) registrou nos últimos anos um aumento expressivo no número de denúncias, provavelmente provocado pela redução da impunidade nesses casos. Ainda assim, a pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo mostra que as denúncias a alguma autoridade policial ou judicial não ultrapassam um terço dos casos. Isso quer dizer que ainda existe um enorme contingente de mulheres silenciadas, presas no ciclo da violência, que vivenciam a violência machista sem conseguir denunciá-la, muitas vezes dependentes emocional e financeiramente do agressor, que procuram preservar o núcleo familiar ou temem por suas vidas.
 Provavelmente a Lei Maria da Penha não será suficiente para reverter esse problema, já que a violência contra a mulher é fruto de uma sociedade patriarcal e, dessa forma, depende de mudanças sociais e culturais muito mais profundas. No entanto, a concretização integral da Lei Maria da Penha constitui um passo importante para erradicar a violência doméstica e familiar; é necessário resistir coletivamente àqueles que a questionam e a desqualificam e impulsionar para que seja dada prioridade política e orçamentária à implementação desse instrumento.

Eu tenho um nome e me chamo MULHER‏

 

Eu tenho um nome e me chamo MULHER

 Fernanda Priscila  Alves da Silva*

Era tarde de março... Mais um encontro para acontecer. Mulheres chegando e adentrando a casa, trocando olhares, trocando sabores e cheiros.
Era tarde de março e havia um tema proposto: Importância e significado do próprio nome na história.
O encontro iniciou com a acolhida de sempre e sentindo-se em casa cada mulher foi convidada a dizer seu nome em voz alta e falar de si mesma. Eu me chamo... Eu sou Mulher. O tom era firme e forte. Mulheres tomando a palavra. Mulheres fazendo outros corpos sentirem sair de si um força estranha, uma força geradora de vida. Força esta que um dia Jesus mesmo sentiu em seu corpo ao ser tocado por aquela mulher que há doze anos sofria de uma hemorragia que não a deixava viver.
Ditas as palavras, cada uma das mulheres presentes naquela tarde de março foi convidada a desenhar seu próprio nome. Desenhar, rabiscar, contornar... E assim, cada uma das mulheres desenhou seu próprio nome e em seguida compartilhou com as outras o sentido e significado do mesmo. Desse modo, se ia formando com os nomes das mulheres a palavra MULHER. Ser Mulher e ter um nome... Algo de um significado especial para aquelas mulheres da batalha. Elas que muitas vezes ocultam seus nomes, o proclamavam naquela tarde com a força de SER MULHER.
Aos poucos o grupo foi tomando a palavra, ou seja, tomar a palavra enquanto MULHER ganhou outro contorno. De mãos dadas as mulheres escutaram e meditaram o texto de Jo 20, 11-16, aonde mostra Jesus chamando Maria pelo nome e assim pelo tom de voz se reconhece quem se chama.
Pelo tom de voz se identifica quem chama e como chama esta foi a reflexão e partilha das mulheres. Uma delas dizia: "Quando ele chegava lá em casa daquele jeito eu já sabia, ele tinha bebido e aquela voz me incomodava... era horrível. Mas chegou um dia que eu não quis mais ouvir aquele tom de voz. Então eu falei: Chega!!!" (sic). Outra mulher refletiu: "Mas tem voz boa também. Jesus chama Maria com força e é por causa do amor que ela reconhece ele." (sic). À medida que as mulheres iam falando a rede ia sendo tecida, ou melhor, a vida sendo costurada, interligada ao som de vozes e lembranças. Em meio às partilhas uma mulher gritou: Eu tenho um nome e me chamo Mulher. Em seguida todas as mulheres aplaudiram concordando e repetiram: Eu tenho um nome e me chamo MULHER.
Era tarde de março e no encontro com Madalena, a beira do túmulo, tendo coragem de olhar lá dentro cada mulher pôde de novo se encontrar consigo mesma e assim encontrando consigo mesma se encontrava com a outra. Mulheres tomam a palavra enquanto a Palavra recria vida.
O encontro foi terminando, mas ao mesmo tempo dando continuidade. A força criadora da Palavra continuaria fortalecendo a vida e assim poetizando com Madalena seguiremos cantando:

Maria, minha irmã
Venho nesta manhã contigo bendizer
A vida que renasce, o sonho que permanece
A luta, a utopia que não se deixa morrer
Quero também eu inclinar-me
Quero também ter coragem de abaixar
Perceber que é possível o túmulo olhar
assim então em ti Senhor abandonar-me

Quero correr os campos
Atravessar as montanhas,
Banhar-me em teus rios
Enxugar meu pranto
Escutar meu nome pronunciado

Vem comigo então Maria
Vem e ensina-me
Mostra-me tua coragem
Pois desejo também eu amar como tu amas
Desejo também percorrer as vinhas
Saltar as janelas para encontrar-me com o Amado

Desejo escutá-lo...
Ouvir a voz do jardineiro: do Deus cuidador
Àquele que toca minhas raízes
E aprofunda meu ser em tuas terras
Meu Deus, Meu Amado, Meu Redentor

Eis que estou aqui minha companheira
Minha querida Madalena
Também quero escutá-lo a pronunciar meu nome
E assim reconhecê-lo

E assim voltar-me-ei aos campos
A bendizer e proclamar
Que também eu vi o Senhor
Também eu senti teu amor

* Fernanda Priscila é integrante do projeto Força Feminina e acompanha profissionais do sexo em Salvador/BA. É autora do livro Estações do Crer.

Luta feminista e gênero‏

Luta feminista e gênero

por CEBI/Monika Ottermann*
Há alguns anos, fui convidada a assessorar um encontro nacional de diáconos e diáconas da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) sobre questões de gênero e de leitura bíblica feminista. Muita gente viajava no ônibus fretado, vindo do sul para o local do encontro, no Espírito Santo, e, em São Paulo, eu me juntei à turma. Havia homens, mulheres e crianças.
Em uma das paradas, uma menininha foi atraída pelos brinquedos expostos numa loja do posto. Voltou ao ônibus feliz e orgulhosa com o presentinho que ganhou: um carro de brinquedo. Uma senhora que estava no ônibus disse-lhe: "Menina, por que você não pediu uma boneca? Tinha tantas e tão bonitas!". E o pai respondeu em lugar da menina consternada: "Você acha que um dia ela não vai tirar carteira de motorista?!". Foi uma observação muito apropriada, se levarmos em conta que no mundo ainda existem três a quatro países que proíbem mulheres de fazer carteira de motorista...
Quando li as reflexões de Scheila, no livro Costurando saberes, lembrei, na hora, da viagem, da menina e de seu brinquedo e do que o pai respondeu. As reflexões trabalham com grande competência e com muito jeito os complexos problemas ligados aos saberes e às experiências de mulheres. Problemas presentes em quase todos os aspectos dos sistemas, das sociedades e das comunidades em que vivemos. São problemas que nos influenciam, mas que, ao mesmo tempo, podem ser mudados por nós, homens e mulheres, gente pequena e grande, sem que tracemos fronteiras entre homem e mulher, entre gente (in)formada e não (in)formada. Pois a construção do nosso ser homem e ser mulher e a nossa avaliação das construções de pessoas em nossa volta não são fixas e naturais ou dadas por Deus. A expressão "fomos criadas assim" não pode ser aceita pelas mulheres.
O que deve estar claro é que, como mulheres e homens, fomos socializadas, criadas, educadas, formadas, influenciadas... "assim ou assado", e que temos a liberdade e capacidade - preciosa dádiva do divino - de nos posicionar diante de tudo isso. O presente ensaio de Scheila é um feliz estímulo no sentido de fazermos maior uso da nossa capacidade e liberdade para transformar mentalidades e atitudes em prol de libertação e respeito às diferenças.
A autora articula com muito jeito dois conceitos que nem sempre andam de mãos dadas: vertentes da luta feminista e reflexões sobre o conceito de gênero. É essa articulação que faz com que gênero seja aqui não simplesmente outra palavra para mulher, sem consciência crítica e sem vontade e critérios de lutar por mudanças. E faz com que feminismo não seja algo restrito aos interesses e desejos de algumas mulheres meio "radicais", que não permitem inclusão de outros grupos desprivilegiados e de homens em geral.
Por isso, o panorama que Scheila nos oferece, de saberes e experiências de mulheres no âmbito do cristianismo (por mais sumário que seja), não é um mero elenco "neutro" (algo que, aliás, não existe: sempre há perspectivas e interesses, nem sempre revelados e, muito menos, com tanta coerência como aqui). É uma preciosa colcha de retalhos, cujo desenho tem como centro os alcances e desejos de nós mulheres no Brasil de hoje (para muito além da IECLB!) e cujo fio de costura é uma profunda fé na igualdade em direitos e dignidade de todos os seres humanos.
Scheila, obrigada por esta contribuição para uma caminhada que é o nosso compromisso e um dos maiores desafios no mundo de hoje!

*Biblista e teóloga feminista, doutora em Ciências da Religião, assessora do CEBI e sócia da Nhanduti Editora.
(Texto da apresentação do livro de Scheila dos Santos Dreher, Costurando Saberes e Experiências de Mulheres - uma perspectiva histórico-teológica)

Feminicídio: O assassinato de mulheres por motivos de gênero‏

Feminicídio: O assassinato de mulheres por motivos de gênero
           por Adital
Maria Dolores de Brito Mota * 

O enfrentamento à violência de gênero praticada contra as mulheres tem se ampliado desde 1985 quando foi criada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher em São Paulo, resultado de um ciclo de 10 anos de luta feminista e social.

Essa violência havia se tornado mais evidente desde o assassinato de Ângela Diniz por seu parceiro Doca Street, no réveillon de 1976, acontecimento que, envolvendo personagens da alta sociedade carioca, desvelou a prática de agressões e de assassinatos de mulheres por parceiros como uma questão presente em todas as classes sociais.

Desde então os movimentos de mulheres e feministas têm atuado na pressão e no acompanhamento à implementação de políticas públicas voltadas para a prevenção, o combate e a punição da violência sexista contra as mulheres. Segundo a Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, em 2008 existiam no país 418 delegacias especializadas para o atendimento a mulheres, 216 conselhos estaduais e municipais da mulher, cerca de 234 órgãos governamentais e 229 não governamentais de atendimento às mulheres.

Com a criação e implementação da Lei Maria da Penha, de combate e prevenção à violência doméstica contra as mulheres, em setembro de 2006, aumentaram os equipamentos, projetos e ações voltados para a defesa e garantia dos direitos das mulheres. Assim, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo ampliaram-se os esforços para o combate e a prevenção da violência contra mulheres, consolidando os seus direitos humanos e formando uma nova consciência social sobre os papeis e significados de ser homem e ser mulher.
No entanto, na medida em que ocorrem esses avanços, tornam-se mais visíveis os mecanismos de dominação e violação dos direitos das mulheres, passíveis de novas formas de sujeição de gênero. É nesse âmbito que nos deparamos com o aumento das denúncias dos assassinatos de mulheres que em vários lugares do mundo estão sendo denominados ‘feminicídio'; um conceito ainda em construção, introduzido na teoria feminista por Diana Russel e Jane Caputi no artigo "Femicide: Speaking the Unspeakable", publicado em 1990 e depois no livro "Femicide: The politcs of women killing", de Diana Russell e Jill Radford, em 1992(1). O eixo da discussão que as autoras estabelecem é a natureza dos assassinatos das mulheres por homens, sobretudo, seus parceiros amorosos(2).
A morte de mulheres emerge como resultado da cultura patriarcal, que normaliza e reforça atitudes de controle e de violação das mulheres por parte dos homens, estabelecendo a engrenagem social para a prática de violências contra as mulheres, pelo fato de serem mulheres; chegando até a sua forma mais bárbara no feminicídio. Para Russel e Caputi (1990) o feminicidio "é o extremo de um continuum de terror antifeminino, e inclui uma ampla variedade de abusos verbais e físicos... Sempre que estas formas de terrorismo resultam em morte, elas se transformam em feminicidio". Segundo Segato (2006), a intenção das autoras é "desmascarar o patriarcado como uma instituição que sustenta o controle do corpo e a capacidade punitiva sobre as mulheres e mostrar a dimensão política de todos os assassinatos de mulheres que resultam desse controle e capacidade punitiva, sem exceção".
As questões introduzidas pelas ideias das autoras referidas - Russel, Caputi, Segato- deslocam o entendimento dos assassinatos passionais de mulheres do âmbito da tragédia e do descontrole de homens imersos em paixões descontroladas, para o âmbito da cultura patriarcal, cujos valores e práticas colocam os homens em posição de posse e controle do corpo (e da vontade) feminino; atribuindo-lhes capacidade (e legitimidade) punitiva para as situações em que as mulheres reagem, ou se opõem a esse controle.
Segato introduz em seu texto a discussão sobre qual dos crimes contra mulheres podem ser considerados feminicídios de modo a distinguir os crimes de gênero daqueles decorrentes de outras formas de criminalidade. Argumenta a favor do uso da categoria feminicídio retirando os crimes contra mulheres da categoria de homicídios, de modo a demarcar, frente aos meios de comunicação e a toda a sociedade, os crimes do patriarcado contra as mulheres.
Assim, a força política da categoria feminicídio se evidencia por sua capacidade de ampliar o entendimento sobre os assassinatos de mulheres que decorrem dos padrões sociais e dos traços simbólicos que legitimam a dominação masculina. Torna possível compreender os mecanismos sociais e simbólicos que constroem esses crimes, revelando-os como engendrados, decorrentes de relações de gênero, patriarcais, revelando-os como crimes culturais contra as mulheres, um crime político.

* Socióloga, Profª da UFC, Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Idade e Família, NEGIF
Notas:
(1) SEGATO, 2006.
(2) O artigo "Feminicide" de Diana Russel e Jane Caputi está disponível no endereço da internet: http://www.dianarussell.com/femicide.html

Referências bibliográficas
CENTRO de la Mujer Peruana Flora Tristan. La violencia contra la mujer: feminicidio en el Perú. 2005.
RUSSELL, Diana e CAPUTI, Jane. Feminicide. Disponível em: http://www.dianarussell.com/femicide.html
SEGATO. Rita Laura. ¿Qué es un feminicidio? Notas para un debate emergente. Série Antropologia nº 401, UNB, Brasília, 2006.

Igreja e Mulher: um diálogo possível? - Eduardo Hoonaert‏

Igreja e Mulher: um diálogo possível? - Eduardo Hoonaert

1. Uma longa história
Desde os inícios, o cristianismo histórico tem tido dificuldades em compreender o comportamento de Jesus para com as mulheres. Diversos trechos dos evangelhos demonstram admiração, mas ao mesmo tempo deixam transparecer estranheza. Os próprios apóstolos não entendem o modo como Jesus aborda as mulheres. Pedro, um de seus mais próximos companheiros, não tolera que uma mulher seja considerada apóstola em pé de igualdade com os homens, como se pode ler no evangelho apócrifo de Maria Madalena . Por causa dessa e de outras dificuldades, o cristianismo histórico guarda uma memória precária e até deformada acerca do comportamento de Jesus diante das mulheres. Maria Madalena, a mais proeminente figura feminina do novo testamento, é sistematicamente maltratada nos sermões da igreja, até ser rebaixada à condição de prostituta e de pecadora arrependida. Essa criminalização simboliza na realidade o rebaixamento da figura da mulher em geral, na tradição cristã. Mas não é só a cultura cristã que desconsidera a mulher. A maioria das culturas é igualmente preconceituosa nesse ponto e ficaria igualmente escandalizada com Jesus, que apreciava o perfume e o afeto de uma mulher e que insistia em que a memória da ternura de uma mulher fosse preservada ‘por onde quer que o evangelho fosse proclamado' (Mt 26, 12). Essa memória sempre encontrou resistência no seio do cristianismo histórico, como provavelmente encontraria na maioria das culturas.
2. Emerge uma nova consciência feminina
Após séculos de silêncio e submissão, a mulher do século XX finalmente dá sinais de rompimento com o passado. No âmbito católico, é na década de 1940 que aparecem os primeiros indícios discretos de que algo está mudando no universo feminino: as mães não mandam mais seus filhos à missa dominical com a fidelidade de antes. Isso repercute imediatamente na igreja, mas quase ninguém percebe o que está acontecendo. Quando, em 1943, o padre Henri Godin, em seu livro ‘França, país de missão?', constata com amargura que a França não é mais o país católico de antes, ele não suspeita que a mulher tenha a ver com essa ‘descristianização'. O mesmo acontece com o sociólogo Gabriel Le Bras, que atribui o declínio na assistência à missa ao estilo de vida na grande cidade, à perda de fé e à secularização. Mas não fala da mulher. E quando, nos anos 1960, se constata um rápido declínio de vocações para o sacerdócio, também não se enxerga nisso a mutação na relação do vocacionado com sua mãe. Os primeiros estudos que apontam nessa direção são dos anos 1990 . É no silêncio do universo feminino que se opera a desconstrução da igreja.
Mas no início dos anos 1960, no momento em que o papa João XXIII pensa em convocar um concílio, a ‘desobediência' feminina de repente ganha notoriedade: a pílula anticoncepcional oral entra em cena e seu sucesso é imediato. A mulher verifica que os ritmos das energias procriativas de seu corpo, se não forem controlados, dificultam a qualidade de vida a que ela e sua família aspiram. Os ciclos sempre repetidos da gravidez, do nascimento da criança, dos longos tempos dedicados ao recém-nascido, dos trabalhos na casa, da preparação dos alimentos, dos cuidados como o marido não deixam espaço para que ela se desenvolva plenamente, em contraste com o que acontece ao homem que, depois do ato sexual, fica ‘liberado'. Permitida nos Estados Unidos em 1960, a pílula conquista o mundo em poucos anos. O sucesso já dura 50 anos. Hoje, no mundo inteiro, cem milhões de mulheres recorrem à pílula ou a outros métodos contraceptivos (camisinha, dispositivo intra-uterino, diafragma, diversos produtos espermicidas). A Organização das Nações Unidas (ONU) aprova oficialmente o planejamento familiar e declara que ele colabora com a saúde e o bem-estar da mulher, dos filhos e da família (conferência do Cairo, 1994). Estamos diante da emergência de um pensamento autônomo, em contraste com o pensamento heterônomo até então vigente. Elabora-se uma nova arquitetura do estado com a finalidade de promover saúde, educação, bem-estar das famílias, assim como atendimento médico-hospitalar baseado na idéia da regulamentação dos nascimentos. ‘Eis uma revolução de dimensões planetárias', realça Rose Marie Muraro . A idéia do planejamento familiar é uma idéia genuinamente feminina que põe em movimento a maior revolução do século XX, uma revolução silenciosa que se processa na intimidade das residências privadas, no diálogo íntimo entre homem e mulher, longe dos púlpitos clericais, das cátedras doutorais e dos foros públicos. Ao controlar a fertilidade, a pílula faz com que a mulher possa entrar no mercado de trabalho ao lado do homem. Doravante, seu corpo não pertence mais à fatalidade dos ciclos da procriação e se liberta aos poucos da vontade do homem. A pílula inaugura um tempo novo, não só para a mulher, mas para a sociedade como um todo. As relações de gênero e trabalho se transformam em profundidade. Entusiasmada, Rose Marie Muraro opina que com a pílula ‘o mundo se torna melhor. Quando dominado pelo homem, o mundo é hierarquizado. Mas ele se estabelece em rede quando a mulher entra em cena'.
Uma vez que na mesma época se inicia o concílio Vaticano II, vale a pena se perguntar se há interação entre ambas as iniciativas. O movimento em prol da libertação do corpo feminino tem algo a ver com o ‘aggiornamento' do papa João XXIII? Será que os bispos reunidos em Roma tomam conhecimento do que está acontecendo no universo feminino e procuram entrar em diálogo com as mulheres?
3. Porque o Vaticano II desconhece a mulher?
Sabemos que mulheres não são convidadas a falar em concílios ecumênicos. Mas elas interferem, isso sim, nos destinos dos concílios. Enquanto os bispos do Vaticano II tentam compreender as razões da ‘descristianização', elas atuam na base, desatando laços seculares e desse modo esvaziando as igrejas. Enquanto os teólogos falam em secularização, ateísmo, consumismo, individualismo ou hedonismo, elas introduzem comportamentos autônomos no seio do velho mundo, marcado por séculos de heteronomia. Decerto, o papa João XXIII sabia que as igrejas estavam ficando vazias em Paris, onde ele foi núncio. Seu diagnóstico de que havia desencontro entre igreja e mundo moderno estava certo. O que lhe faltava era ir ao âmago da questão. Desse modo, o Vaticano II certamente fez um bom trabalho, como realça José Oscar Beozzo, mas não conseguiu identificar com clareza a ideologia heterônoma que caracteriza a igreja.
É de se compreender a razão. O universo imaginário da igreja cristã provém em última análise da bíblia, elaborada num mundo dominado por estruturas heterônomas. O rei (o imperador) manda no povo, o senhor manda no escravo (trabalhador), o homem manda na mulher, o pai manda nos filhos e Deus manda em todos (e todas). A vida toda é concebida em termos de heteronomia: há sempre um ‘outro' que manda. A vida humana está sempre em mãos alheias. A heteronomia constitui o mais antigo e durável modelo de convivência humana, que caracteriza regimes políticos, econômicos, sociais, culturais e psicológicos. Na bíblia, Deus aparece como um ser todo-poderoso, santíssimo, sentado no trono celeste. Ele criou o universo em poucos dias e até hoje governa sua criação da mesma forma que um rei persa controla seus imensos territórios, guarda tudo que acontece numa memória infinita (melhor que a memória do computador mais potente) e julga tudo como o mais justo dos juízes. Ele premia o bem e castiga o mal, às vezes aqui na terra, mas certamente após a morte, na vida eterna. Deus por vezes aparece como senhor rigoroso e justo, outras vezes como pai amoroso que perdoa tudo. Mas sempre fica fora do mundo em que vivemos. Nos dois primeiros versos da bíblia aparece uma imagem nitidamente heterônoma de Deus: de um lado a luz, o sopro, a vida, do outro lado o vazio, a solidão, a escuridão e a morte:
Primeiras palavras: Deus cria o céu e a terra, Terra vazia, solidão, Escuro em cima do abismo Sopro de Deus Movimentos sob as águas (Gn 1, 1-2).
Admitamos que os estudiosos da bíblia procuram desprender-se da imagem de Deus como a que aparece no texto citado do livro Gênesis. No entanto, a idéia heterônoma está tão enraizada no subconsciente das pessoas e da instituição que só em raros casos ela chega à consciência. Mas a história avança. Decisiva foi, no plano político, a passagem para regimes democráticos e autônomos que se processou nos últimos 200 anos. Mas foi no plano científico que a idéia da autonomia fez seus maiores progressos. Cada vez mais, os cientistas descobrem que o mundo é auto-regulamentado, baseado em leis marcadas por uma lógica interna. Não há mais necessidade de milagres ‘fora das leis naturais', pois a cada momento o milagre está aí, diante dos olhos e dentro do corpo. Outro avanço é a ‘reviravolta lingüística' que hoje dinamiza uma nova maneira de se falar em Deus e nas coisas divinas.
4. A mulher e o bispo
A estas alturas é bom averiguar o que é realmente novo no comportamento da mulher que pratica o planejamento familiar. O novo consiste no fato de que ela não age mais impelida por uma vontade alheia, mas a partir de uma vontade própria. Ela está sintonizada com o pensamento moderno, que acredita na auto-regulamentação das leis que regem o universo. A percepção sempre mais clara da regularidade das leis internas do universo resulta em atitudes de autonomia. Em conseqüência disso, a mulher inicia um novo relacionamento com seu próprio corpo. Verificando que seu corpo responde a determinados estímulos químicos capazes de inibir a gravidez, por exemplo, ela adquire aos poucos e quase imperceptivelmente um comportamento autônomo: ‘O axioma da autonomia está penetrando lentamente e quase sempre de modo inconsciente em toda a cultura ocidental' . Ao programar a sua família, a mulher mexe com as estruturas da sociedade e do instituto religioso. Mais: ao lutar por uma família que desfrute de uma melhor qualidade de vida graças à regulamentação dos nascimentos, a mulher mexe com a própria imagem de Deus. Ela esboça uma nova imagem de Deus, mais condizente com as leis da autonomia. Os progressos científicos a favor da vida revelam o santo mistério chamado Deus. Para essa mulher, o Deus eclesiástico vai se diluindo no horizonte enquanto emerge um Deus que corresponde às leis internas e autônomas do universo e da humanidade. Para ela, o que colabora para uma melhor condição de vida é santo. Na medida em que torna o mundo mais feliz, a pílula anticoncepcional é santa. Então, a mulher emancipada questiona a igreja, como se pode verificar por toda parte.
Para os bispos, a passagem do pensamento heterônomo para o pensamento autônomo é bem mais complicada. Mesmo os que estão pessoalmente abertos à mudança dos tempos permanecem enquadrados numa estrutura fundamentada na heteronomia. Isso se verifica nas renovadas ‘guerras santas' em torno da questão do aborto. Tomemos o caso paradigmático de Recife março 2009. Quando ocorreu numa clínica da cidade a interrupção da gravidez de uma menina de nove anos, Dom José Cardoso Sobrinho, na época arcebispo da cidade, prontamente excomungou os médicos que praticaram o aborto na menina. Ele justificou seu comportamento dizendo que estava seguindo as leis da igreja. Desse modo, o bispo recorreu à idéia da heteronomia. A igreja declara estar ‘a favor da vida', contra ‘o cultivo da morte', mas não sabe como lidar com casos concretos relacionados com aborto. Decerto, o bispo recomendou compaixão com a menina abusada pelo padrasto, mas não tinha nada a declarar acerca da existência de centenas de clínicas clandestinas de aborto no Brasil, que vitimam cada ano milhares de mulheres. Ele recomendou compreensão e preces pelas pobres mulheres que recorrem a tais clínicas, mas não podia ir além, pois as questões concretas que envolvem aborto só podem ser resolvidas por meio de ações baseadas no princípio da autonomia. A sociedade tem de se mostrar capaz de enfrentar com realismo os problemas que se lhe apresentam. Não basta dizer às mulheres que desejam abortar que elas têm de se entregar ‘às mãos de Deus' e obedecer aos desígnios divinos. Dom José até pode sonhar com uma igreja santa no meio da devassidão do mundo e dos erros do século, uma cidadela de Deus, como aquela descrita por Santo Agostinho em sua obra ‘A Cidade de Deus'. Mas esse sonho não corresponde à realidade. O postulado da santidade da igreja é uma elaboração teológica do século IV, baseada na aproximação da igreja daquele tempo com o sistema imperial romano e nos métodos utilizados para impressionar as pessoas. Mesmo assim, a imagem de uma igreja santa, intocável e inquestionável ainda se mantém tão poderosa nos nossos dias que é capaz de seduzir bispos e mesmo o papa. Em suma, atitudes como as de Dom José Cardoso criam inutilmente curtos circuitos que dificultam a passagem do pensamento cristão para o mundo em que vivemos.
5. Como sair do curto circuito?
Para a igreja, não é fácil abandonar o universo imaginário da heteronomia. Mesmo os textos mais inovadores do concílio Vaticano II ainda são formulados por meio de imagens herdadas do passado bíblico, sem a devida leitura crítica. Hoje não existe caminho fora do diálogo com a modernidade. Habilitar-se para tal diálogo implica, em primeiro lugar, numa atitude de autocrítica. Durante longos séculos, a igreja católica dominou a cultura ocidental e ficou intocável. Apenas cinqüenta anos atrás, na abertura do Vaticano II, o domínio do pensamento católico sobre as consciências ainda era tão poderoso que criticar um representante da igreja católica era quase o mesmo que criticar o próprio Deus. A igreja se julgava superior a todas as demais organizações. Mas, recentemente, quando apareceu a pedofilia praticada por padres, percebeu-se que a igreja não é tão santa como o papa e os bispos desejariam que fosse. Os padres são humanos (por vezes demasiadamente humanos), feitos de uma matéria comum a todos os seres humanos. Diante da pedofilia, por exemplo, a mentalidade moderna não suporta mais os métodos de intimidação, ocultamento e manipulação que ainda eram aceitos por nossos pais e avós num passado não tão distante. Nossa percepção do que seja uma sociedade democrática, igualitária e justa vai se aperfeiçoando e um número crescente de pessoas acha que não há nada mais louvável que uma sociedade que caminhe para a democracia e a liberdade. Todos os cidadãos estão sujeitos à lei, nenhuma instituição está acima da lei civil.
Em segundo lugar, não é bom dramatizar nem exacerbar os sentimentos. Palavras de guerra como ‘mentalidade medieval', ‘obscurantismo', ‘fanatismo' (de um lado) e ‘ateísmo', ‘agnosticismo', ‘abandono da fé' (de outro lado) só atrasam o processo. Lançam-se farpas de ambos os lados, o que não leva a nada. Só por meio de estudos serenos e da percepção das verdadeiras dimensões do problema é que se pode avançar. Pensar com liberdade não significa abandonar a fé. Não falar mais em reis e rainhas, senhores e santidades, tronos e potestades não significa trair o evangelho. Acompanhar a evolução das ciências, da política e da sociedade de hoje não é o mesmo que deixar de ser cristão. São Paulo não deixou de ser judeu quando escreveu
Sim, todos fomos imersos Num sopro único Num corpo único Judeus ou gregos Escravos ou livres E todos vivemos animados Por um sopro único (1Cor 12, 13).
Nesses versos, São Paulo escreve que somos todos feitos do mesmo barro humano e ao mesmo tempo animados pelo mesmo sopro de Deus, quer sejamos judeus ou gregos, homens ou mulheres, bispos ou simples fiéis, heterônomos ou autônomos. As mulheres que praticam o planejamento familiar são feitas do mesmo barro humano que os bispos que as rejeitam. Não se pode dizer que o planejamento familiar seja uma questão de fé. Se durante tantos séculos falamos em Deus em termos de heteronomia, porque não será possível falar dele hoje em termos de autonomia? A modernidade religiosa consiste na passagem de uma imagem antiga de Deus, herdada da bíblia, para a imagem de um Deus que encontra sua auto-expressão no universo em que vivemos. Não há nada de dramático nessa passagem, nada que seja impossível. Quem vive sintonizado com o tempo de hoje compreende que todas as energias cósmicas visualizam de maneira por vezes desconcertante (mas sempre admirável), aquele mistério que ultrapassa nosso entendimento e a que damos o nome Deus. Hoje é na figura de um universo em contínua gestação que se vislumbra o rosto de Deus.
Termino este artigo citando um texto da teóloga Ivone Gebara por ocasião dos acontecimentos de março 2009 em Recife: ‘Os bispos passam por cima da fé da comunidade cristã. Eles se comportam como se fossem os únicos porta-vozes do evangelho de Jesus e desconhecem o senso evangélico dos católicos. Eles pretendem ser advogados de Deus, mas se tornam cismáticos em relação à comunidade de cristãos católicos, isto é, rompem com grande parte dela em várias situações. Esses bispos não temem em incentivar, dentro da igreja, uma guerra santa em nome de Deus, para salvaguardar coisas que eles julgam serem vontade e prerrogativa de Deus. Ora, a tradição teológica nunca permitiu que nenhum fiel (mesmo bispo) falasse em nome de Deus. O sagrado mistério que atravessa tudo o que existe é inacessível aos nossos julgamentos e interpretações. O mistério que em tudo habita não precisa de representantes dogmáticos para defender seus direitos. Nossa palavra é nada mais nem menos do que um balbuciar de aproximações e de idéias mutáveis e frágeis, inclusive sobre o inefável mistério. As comunidades cristãs, assim como as pessoas, são plurais. A comunidade cristã é mais que a igreja hierárquica. Ela é plural, ou seja, composta de múltiplas comunidades cristãs e estas são igualmente muitas pessoas cada uma com sua história, suas escolhas e decisões próprias diante da vida. Urge que a teologia dos bispos saia de uma concepção hierárquica e dualista do cristianismo e perceba que é na vulnerabilidade às múltiplas dores humanas que poderemos estar mais próximos das ações de justiça e amor. É claro que sempre poderemos errar. Esta é a frágil condição humana. Creio que nossas entranhas sentem em primeiro lugar as dores imediatas, as injustiças contra corpos visíveis e é a eles que temos o primeiro dever de assistir. A igreja é a humanidade que se ajuda a suportar dores, a aliviar sofrimentos e a celebrar esperanças. De fato, um cisma histórico está se construindo e tem crescido cada vez mais em diferentes países. A distância entre os fiéis e a hierarquia católica é marcante. Na medida em que os que se julgam responsáveis pela igreja se distanciam da alma do povo e de seu sofrimento real, eles estarão sendo os construtores de um novo cisma que acentuará ainda mais o abismo entre as instituições da religião e a vida cotidiana com sua complexidade, desafios, dores e pequenas alegrias. As conseqüências de um cisma são imprevisíveis. Basta aprendermos as lições da história passada' . Permeadas de um profundo sentimento de solidariedade com as dores das mulheres que passam pela prova do aborto, as palavras de Ivone Gebara são modernas, feministas, autônomas. Elas merecem ser lidas com atenção por aquelas lideranças católicas que desejam promover uma feliz vivência humana nos dias de hoje.

Eduardo Hoonaert é padre casado, belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, mais de 20 livros publicados. Mora em Salvador. Dedica-se agora ao estudo das origens do cristianismo. (Esse texto foi extraído da página da ADITAL)

8 de Março: aprendendo a fazer sabotagem - Edmilson Schinelo‏

8 de Março: aprendendo a fazer sabotagem - Edmilson Schinelo

por Edmilson Schinelo
Entre as comemorações do mês de março, destaca-se o dia 8, Dia Internacional da Mulher. É um dia de festa e de luta. E é bom que seja assim, pois a humanidade precisa celebrar suas conquistas, principalmente as que se efetivaram com muita luta. Mas é bom também que seja um dia de resgate da história, o que nem sempre é garantido, há muita gente interessada em esquecer as revoluções feitas pelos pequenos.
É preciso ter presente as vidas das 129 mulheres que no 08 de março de 1857 morreram queimadas numa fábrica em Nova Iorque. A razão já é conhecida: diante da justa reivindicação por melhores condições de trabalho, os patrões ordenaram que as portas fossem trancadas e a fábrica incendiada. Na concepção dos patrões, elas estavam fazendo sabotagem!
Mas essa história de sabotagem feita por mulheres é um pouco mais antiga. Com a Revolução Industrial, mulheres e crianças eram levadas às fábricas para trabalharem quatorze, dezesseis horas por dia, sem direito a descanso, em péssimas condições de higiene, sem qualquer segurança, quase sem remuneração. A história não foi capaz de registrar as milhares de mortes ocorridas, em função da fome, do cansaço, da falta de segurança das máquinas. Ironicamente, costuma-se chamar a esse tipo de morte de “acidentes de trabalho” e não de assassinato! Vale a pena conhecer melhor esse período, uma boa ajuda para isso é o  filme Dans: Um grito de Justiça. Quem tiver a oportunidade, deve assistir.
A sabotagem foi então a primeira forma de resistência das mulheres, no começo de forma isolada, e depois em grupos organizados. Tais mulheres utilizavam um grosseiro tamanco de madeira que, logo descobriram, poderia ter uma outra função: se enfiassem aquele tamanco nas engrenagens das máquinas, elas travariam. E enquanto o patrão as concertasse,  as mulheres poderiam respirar, descansar, dialogar, tramar, organizar a resistência e a luta..
Em francês, a palavra utilizada para dizer “tamanco” é “sabot”, daí surgiu o termo “sabotagem”,  para referir-se à atitude que punha tanto medo naqueles que se achavam tão poderosos.
O que se segue abaixo é um convite para que leiamos o Magnificat na perspectiva de quem quer continuar a fazer sabotagem, por acreditar no Deus que “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes” (Lc 1,52).
Um poema de mulheres pobres
“Magnificat” é o título latino muito cedo dado ao “Cântico de Maria”, o belo poema de Lc 1, 46-56. Mas engana-se quem pensa que Maria pronunciou tudo aquilo de improviso, dando uma de repentista. O poema é uma coletânea de versos extraídos do Primeiro Testamento, tendo como pano de fundo o chamado Cântico de Ana (1 Sm 2,1-10). E nesse sentido é poema de mulheres pobres, não só por marcar o encontro de Maria e Isabel, mas por se constituir em memória de um grupo que por nós precisa ser melhor conhecido.
Ao atribuir o poema a Maria, a comunidade de Lucas quer, entre outras coisas afirmar que a jovem mãe fazia parte dos ‘anawîn, os “pobres de Javé”. Desde a época da destruição do país pela Babilônia , que aconteceu por volta de 587 a.C., o povo israelita começa a esperar  o restaurador do reino davídico, o Messias. Com o passar do tempo, vão se constituindo grupos e partidos, cada um com sua teologia própria, cada um esperando um messias que viesse satisfazer seus interesses. Começam a se formular compreensões diferentes dessa figura. Os fariseus, por exemplo, aguardavam a chegada de um messias que viesse restaurar o reino davídico a partir da exigência do cumprimento total da Lei de Moisés. Os zelotas, por sua vez, aguardavam um messias guerrilheiro que expulsasse a dominação romana por meio de uma revolução armada.
Apesar dos poucos registros históricos, sabemos da existência de um outro grupo que se reunia para louvar ao Deus dos pobres, na espera de um messias que viesse do meio dos pobres, tal como havia profetizado Zacarias: “Eis que o teu rei vem a ti; ele é justo e vitorioso, humilde[1], montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho da jumenta” (Zc 9,9). Trata-se dos ‘anawîm, os “pobres de Javé”. Desse grupo faziam parte, provavelmente, Isabel e Zacarias, os pais de João Batista, justos diante de Deus (Lc 1,5-6); o justo e piedoso Simeão,  que aguardava a consolação de Israel (Lc 2, 25); a profetiza Ana, com seus oitenta e quatro anos de sonho e esperança (Lc 2, 36-38). E Maria, com seu noivo José, que também era justo, conforme Mt 1,19. Parece que o termo “justo” é um adjetivo freqüentemente atribuído às pessoas participantes do grupo dos ‘anawîm.
É notável a liderança das mulheres entre os ‘anawîm. Muito provavelmente em seus momentos de encontro, de oração, elas iam coletando frases do Primeiro Testamento e compondo canções como o Magnificat. Os capítulos iniciais do evangelho de Lucas recolhem ainda o chamado Cântico de Zacarias (Lc 1, 68-75), outro exemplo desses poemas. Maria sabia de cor essas canções, elas eram a história do seu povo.
 Composição de mulheres que conhecem bem as Escrituras
Numa cultura onde as mulheres não tinham acesso às letras, chama a atenção como no Magnificat se fazem presentes os textos bíblicos. É evidente a força feminina na manutenção da história através da memória oral, visto que a escrita estava ligada a pequenos grupos, normalmente de homens detentores do poder.  Vamos citar alguns textos apenas, mas vale olhar com mais calma para descobrir outras. Assim perceberemos como Maria e as suas companheiras conheciam bem a história de seu povo e dela tiravam forças para lutar.
 A principal fonte inspiradora do Magnificat é o Cântico de Ana, mulher estéril, por isso discriminada e humilhada. Na amargura, chora e derrama a sua alma diante de Deus (1 Sm 1,10.15). Mas sabe expressar a sua gratidão ao se tornar mãe de Samuel: “eu o pedi a Javé” (1 Sm 1, 20). Muito sabiamente, o redator de 1Sm a ela atribui o poema presente em 1Sm 2,1-10. “O meu coração exulta em Javé, a minha força se exalta em meu Deus... O arco dos poderosos é quebrado, os fracos são cingidos de força” (vv 1.4-5).
Entretanto, o Magnificat percorre vários livros do Primeiro Testamento. Isaías havia dito: Transbordo de alegria  em Javé, a minha alma se alegra em meu Deus, porque ele  me vestiu com vestes de salvação, cobriu-me com um manto de justiça.. (Is 61,10). Hab 3,18 diz algo semelhante: “Eu me alegrarei em Javé, exultarei no Deus de minha salvação. A figura do “servo sofredor” também é retomada, quando o poema diz que o Senhor “socorreu Israel seu servo”(Lc 1,54). Vale conferir Is 41, 8-20, um belo cântico de esperança: “Tu és meu servo, eu te escolhi, não te rejeitei. Não temas, porque eu estou contigo, não fiques apavorado, pois eu sou o teu Deus. Não temas, vermezinho de Jacó, e tu bichinho de Israel. Eu mesmo te ajudarei”. (Is 41, 9-10.14).
         O livro dos Salmos é muito visitado: 89,11; 98,3; 103,17; 107,9; 111, 9. Do Gênesis, evoca-se a figura da bem-aventurada Lia, companheira de Jacó, quando engravidou pela segunda vez: “Que felicidade! As mulheres me felicitarão” (Gn 30,13). E também a promessa feita às matriarcas e aos patriarcas do povo, por meio de Abraão (Gn 12; Gn 15). Explícita ainda é a citação de Gn 22 18: “Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra”.
 A fé num Deus que é capaz de travar as engrenagens
Uma vez um príncipe escreveu a Lutero pedindo-lhe orientações de como cumprir bem sua função de dirigente do povo, sem ser mais um opressor. Foi na época em que o próprio Lutero estava sendo oprimido e perseguido. Conhecedor das Escrituras que era, não exitou em responder: “coloque em prática o que está escrito no Magnificat, aprenda de Maria que Deus que derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes!”
Não sabemos se o príncipe seguiu o conselho de Lutero. O que podemos afirmar é que Lutero não  concordava coma a imagem de uma Maria meiga, mansa, que aceitava tudo passivamente. Essa Maria é criação do machismo que reinou na cristandade e ainda reina na maioria das igrejas cristãs, principalmente em nível institucional. Uma pessoa assim não teria força para cantar e praticar um poema como o Magnificat.
Ao contrário, o que descobrimos no poema são mulheres organizadas e dispostas a enfrentar o sistema estabelecido para preservar a memória (Lc 1,54). Mulheres que têm pressa quando é preciso expressar a solidariedade e por isso enfrentam montanhas (Lc 1,39). Mulheres que sabem cantar com a alma (1,46), que sabem sentir que estão grávidas do novo, que lhes salta no ventre (1,44). Mulheres que pregam a revolução das estruturas de forma corajosa  e contundente porque acreditam num Deus que dispersa os homens de coração orgulhoso (1,51) e é capaz de cumular de bens os famintos, despedindo os ricos de mãos vazias (1,53).
Foi assim que essas mulheres acabaram fazendo sabotagem! Começaram a travar as engrenagens do tão bem organizado Império Romano. Delas aprenderam mais tarde as mulheres da Revolução Industrial, usando até mesmo seus tamancos para depor os poderosos de seus tronos (1,52).
E de mulheres lutadoras de hoje também somos convidadas e convidados a aprender. Aprender do sonho daquelas que sabem de seus direitos, às vezes até assegurados no papel, mas ainda ilusórios na prática.
 Para aqueles que detêm as riquezas que nós, mulheres e homens ajudamos a produzir, a máquina capitalista funciona bem, é perfeita.  Mas nós sabemos que não. E é por isso que somos capazes de travar suas engrenagens. E enquanto eles ficam perplexos diante de nossa sabotagem, a criança já está saltando de alegria em nosso ventre!

Edmilson Schinelo