19.04.11 - Brasil
A espetacularização da violência juvenil
Leonardo Venicius Parreira Proto
Bacharel e licenciado em História pela PUC-GO, especialista em adolescência e juventude no mundo contemporâneo pela Faculdade Jesuíta (FAJE-MG), mestrando em História pela UFG e bolsista da CAPES.
Coordena o curso de História da UEG/UnU-Iporá.
"O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”. (DEBORD, 1997).
Notícia nos meios de comunicação social sobre a violência juvenil tem sido uma constante. Violências cometidas contra e por adolescentes e jovens pautam o debate midiático nas manchetes mais recentes. Essas informações, muitas vezes somente veiculadas de forma rápida e sem quaisquer problematização acerca dos tais acontecimentos, minimizam e muito nossa capacidade de absorver e posteriormente refletir com a capacidade madura do raciocínio sobre tais eventos.Uma das perguntas com as quais nós, indivíduos-sociais, deveríamos nos fazer é: por que a violência juvenil tem feito parte das grandes manchetes ou coberturas midiáticas? O que há, nesse fenômeno, que valha a pena sua cobertura nos noticiários de "horários nobres” ou nas reportagens de capas dos jornais de circulação nacional?
Essas indagações nos permitem a pensar a questão da violência juvenil e suas imagens a partir das contribuições de Guy Debord, que escreveu na década de 60 do séc. passado sua obra A sociedade do espetáculo. "O espetáculo, compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente” (DEBORD, 1997). Debord vai trabalhar a idéia de imagem numa dimensão de reflexão da totalidade social, ou seja, como característica do desenvolvimento da própria sociedade capitalista.
Assim, o que vemos na mídia em relação à violência juvenil, como assassinato em massa, chacinas, cenas de torturas, de abuso sexual, de maus-tratos, parecem num primeiro momento serem apenas conseqüências imediatas da ação dos próprios adolescentes e jovens ou de punição dos mesmos por parte de autoridades, sejam elas pais, escolas, corporações militares, instituições de educação a ações infratoras. Porém, o que necessita ser debatido é a própria espetacularização da violência física e psíquica dos sujeitos envolvidos como particularidade de um todo social, pois a violência seja ela em quais níveis forem, expressa uma faceta da dinâmica da sociedade.
É impossível ver a violência da e contra a juventude em si mesma, mas como uma realidade concreta expressa no conjunto das problemáticas sociais, enraizadas numa sociedade classista, produtora dos seus espetáculos. "Ao mesmo tempo, a realidade vivida é materialmente invadida pela contemplação do espetáculo, e retoma em si própria a ordem espetacular dando-lhe uma adesão positiva” (DEBORD, 1997).
A crítica exposta pelas teses de Debord nos auxilia no sentido de ver no conjunto das imagens produzidas socialmente, uma aparência dos fenômenos sociais em suas condições materiais de existência e sua negação na formulação das aparências. Assim, ao vermos as imagens da juventude estampadas nos meios de comunicação social, requer de nossa capacidade crítica perceber que por trás do fenômeno aparente: banalização da violência e a criminalização ou vitimização dos/as adolescentes e jovens.
Os efeitos ou causas da violência juvenil não podem ser elaborados pelos sujeitos sociais simplesmente como conseqüências das mazelas sociais, mas como construto histórico social das determinações sociais, dinamicamente elaborado pela determinação fundamental, o modo-de-produção.
Para Debord (1997), "O espetáculo submete a si os homens vivos, na medida em que a economia já os submeteu totalmente. Ele não é nada mais do que a economia desenvolvendo-se para si própria”. Portanto, as imagens da violência da e contra a juventude só podem mesmo ser explicadas, se a tomarmos como determinações da própria sociedade, pois ao explicar o fenômeno é fundamental relacionar as partes com o todo. Não basta sensibilizarmos diante das imagens da violência juvenil sem nos atermos às formações sociais e históricas das sociedades.
Ao tomarmos a realidade sofrível da juventude como uma imagem em si mesma, sem relação com a totalidade concreta dos acontecimentos históricos, fica evidente uma leitura ideologizada e fragmentária, podendo nós em nossas reflexões romantizar ou culpabilizar a própria juventude por suas ações. Esse reducionismo na análise impede que vejamos as ações de adolescentes e jovens numa relação social e não como produto de atitudes ou visões particulares desse mesmo grupo social.
Portanto, o importante nessa leitura debordiana é olhar para qualquer aspecto da vida da juventude, em especial, para o processo de institucionalização da violência na sociedade como um elemento no qual as práticas de violência não podem ser lidas isoladamente, em si mesmas, mas como aspectos das relações sociais na esfera social.
Referência Bibliográfica
DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
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